A falta de orientação médica no uso dos serviços é complementada por um modelo de remuneração que está obsoleto.
Os reajustes dos planos de saúde, muitas vezes abusivos, são uma constante preocupação dos consumidores. Pesquisa do Datafolha aponta que o plano de saúde é o segundo fator mais importante para se viver bem. O levantamento revela o anseio por transparência nos reajustes.
É urgente discutir soluções para esta questão que atinge 48 milhões de brasileiros. Afinal, os reajustes, principalmente de planos coletivos, vêm alcançando índices na casa dos 20%, levando consumidores a cancelar contratos.
O problema principal para essa escalada dos custos é que cerca de 90% das demandas de saúde poderiam ser inicialmente tratadas com uma boa atenção primária. Para isso, é necessário que as operadoras de planos de saúde (OPS) não sejam apenas repassadoras de custos e façam a gestão assistencial de seus clientes. Fortalecer o papel do médico nesse processo é fundamental para acompanhar todas as etapas de uso dos serviços do plano pelo usuário, que acaba recorrendo, por qualquer demanda, aos prontos-socorros, sendo que cerca de 10% desses atendimentos referem-se a urgências e emergências.
A falta de orientação médica na utilização dos serviços é complementada por um modelo de remuneração de prestadores que está obsoleto e que é baseado na chamada conta aberta. Esse modelo premia o desperdício e não incentiva as práticas mais resolutivas. Vale ressaltar ainda que, diferentemente das OPS, os hospitais não estão submetidos ao rigor da regulação econômica, estando, portanto, livres para praticarem os preços e reajustes que quiserem.
As administradoras de benefícios não contribuem para essa escalada de custos. Representando apenas cerca de 6% do mercado, as administradoras são contratadas facultativamente pelo polo dos clientes (entidades de classe e empresas)e atuam para reduzir o reajuste solicitado pela OPS. Facilitam ainda o acesso à saúde suplementar por meio do pool de compra, o que é um ganho ao consumidor. A legislação jamais impôs sua contratação como obrigatória e visou a coibir fraudes com falsos coletivos a partir de entidades fantasmas. Renomadas empresas e entidades de classe fazem a opção de contratar uma administradora para gerir seus planos coletivos junto às OPS pelas vantagens obtidas.
Assim, a quem interessa acabar com as administradoras? Possivelmente a quem deseja liberdade total para impor seus reajustes ilimitados aos consumidores? Ou para acobertar milhares de microempresas falsas, com CNPJs inativos, que enganam o cliente e podem rescindir o seu contrato unilateralmente? Em verdade, essa talvez seja a grande discussão: controle de reajuste dos planos coletivos, que impacta em cerca de 75% de todo o mercado.
O alto custo da saúde no Brasil é resultado de um modelo essencialmente financeiro das OPS, que foi muito importante para expandir uma das melhores infraestruturas médico-hospitalares, mas que agora está se esgotando com a escalada de reajustes. É necessário evitar, portanto, falsas discussões, colocando a gestão assistencial em primeiro lugar.
Alessandro Acayaba de Toledo é presidente da Associação Nacional das Administradoras de Benefícios.
Fonte: O Globo