Depois da Amil, que parou de vender planos de saúde para pessoa física em junho último, foi a vez de a Golden Cross desistir deste segmento de mercado. Seus 160 mil clientes passam a ser atendidos pela Unimed Rio.
Isso configura uma tendência fortíssima, porque Sul América, Bradesco e Porto Seguro também desistiram de atender planos individuais.
As empresas alegam dois motivos para o desinteresse por esse tipo de contrato: reajustes fixados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e custos que não se diluem por um grupo maior de vidas, como nos planos coletivos por adesão e empresariais.
Como ficam os brasileiros que não têm emprego formal – e que, portanto, não dispõem deste benefício cada vez mais oferecido pelos empregadores – e que só encontram planos pessoa física com preços elevados? São obrigados a participar de ‘falsos coletivos’, ou seja, de grupos de associações e categorias profissionais às quais não estejam, verdadeiramente, vinculados.
Mais difícil ainda é a situação de aposentados que não têm direito a permanecer nos planos das empresas para as quais trabalharam, porque o empregador bancava 100% do benefício.
Nas grandes cidades, os preços dos planos para os idosos costumam superar R$ 1 mil mensais, o que, na maioria das vezes, consome toda a aposentadoria recebida do INSS.
Eles têm de recorrer, então, ao atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), que não tem prazos máximos para atendimento, como os exigidos dos planos privados. Isso significa, muitas vezes, esperar meses, em determinadas regiões, por um simples exame de sangue ou consulta a especialista.
Hoje, em torno de 50 milhões de brasileiros têm planos de saúde. O SUS é responsável exclusivo, portanto, pelo atendimento de 150 milhões de pessoas.
O aumento da longevidade e a redução do número de filhos por família estão modificando a pirâmide etária do Brasil. Estima-se que haverá mais de 30 milhões de idosos em 2020. Que tipo de assistência médica eles receberão?
Governos e operadoras de planos de saúde terão de encontrar uma solução que preserve o atendimento a milhões de brasileiros que não contam com planos de saúde empresariais. Para dificultar isso, não há fórmulas prontas nem simples no mundo, como demonstra o caso dos Estados Unidos, nação mais rica do planeta, no qual ainda não há cobertura pública de saúde para todos os habitantes.
Mas saúde não é brincadeira. Tente imaginar qualquer cenário de boa qualidade de vida sem acesso rápido a médicos, clínicas, hospitais e laboratórios? Como desfrutar das novas tecnologias da medicina, que avançam para a maior compreensão do funcionamento do cérebro, combate a doenças degenerativas e aumento do percentual de cura de vários tipos de câncer, se ainda se morre, em nosso país, nas intermináveis filas dos hospitais?
Talvez o dilema dos planos de saúde individuais só seja solucionado por uma parceria público-privada, que reúna empresas e governos. Ou com outra forma de estímulos a operadoras que continuem atendendo à pessoa física.
O que não pode ocorrer é o simples desaparecimento desta modalidade de contrato, com perdas irreparáveis para os cidadãos.
Sem contar que o SUS mal dá conta da demanda de hoje, quanto mais de atender mais alguns milhões de pessoas, se estas não tiverem, mesmo, condições de contratar planos particulares individuais e familiares.
Para os 160 mil clientes da Golden Cross, que agora têm carteirinha da Unimed Rio, o pior quadro, virar ‘sem-plano’, felizmente não se concretizou. Mas cabe à ANS e ao Ministério da Saúde atenção e debate redobrados, porque a sinalização é preocupante.
Planos individuais, hoje, estão se tornando o ‘patinho feio’ do mercado. Algo tem de ser feito já, com bom senso e discussão qualificada, antes que o problema assuma proporções de crise grave.
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