RIO — Operadoras de saúde e redes hospitalares estão desenvolvendo um novo modelo de negócio. Depois da última onda de aquisições e construções de unidades próprias de atendimento, a chamada verticalização , as empresas do setor estão criando planos com uma rede credenciada menor , concentrada em hospitais de um único grupo. O modelo reduz custo para as empresas, o que resulta em mensalidades de 20% a 25% mais baratas para o beneficiário.
O Rio é o berço dessas primeiras iniciativas. Em parceria com a Rede D’Or São Luiz, que tem 16 hospitais na Região Metropolitana do estado — após a compra da Perinatal — , Bradesco Saúde , SulAmérica e Golden Cross já oferecem produtos neste novo modelo, com atendimento focado nos hospitais do grupo, o que inclui não só internações, mas também procedimentos como exames de imagens e atendimentos ambulatoriais. As três operadoras já têm planos de expandir a iniciativa para outros estados, e algumas inclusive já estudam outros parceiros. O público preferencial são pequenas e médias empresas, a partir de três funcionários.
Integração de informações
O modelo começou a ser gestado há cerca de três anos. O primeiro passo foi um projeto-piloto, com a Bradesco Saúde, voltado para o atendimento de 32 mil dos 85 mil funcionários da Rede D’Or. O projeto ganhou fôlego e se tornou um novo plano.
— Em um ano, enquanto o custo do plano de saúde desses funcionários foi reduzido em 28%, os dos demais tiveram incremento de até 18%. Ou seja, o custo per capita chega a ser 40% a 50% menor. A quantidade de internações caiu 10% e o custo por internação quase 30%. É uma mudança conceitual, na qual o prestador passa a prestar também um serviço de gerenciamento da saúde da população daquele plano de saúde — explica Heraclito Gomes , presidente executivo da Rede D’Or, acrescentando que o grupo poderia desenvolver o modelo também em Brasília, Recife, SP e grande ABC paulista.
Uma das diferenças é o modelo de pagamento, que deixa de ser por serviços e passa a ser feito por pacotes ou diárias e com custos fixos para atendimentos de emergência. O negócio prevê centrais de agendamento, fornecidas pela rede hospitalar, nas quais o usuário do plano é direcionado para o atendimento de médicos e serviços da rede credenciada. O sistema compreende alertas para repetição de consultas e exames e monitoramento do resultado obtido pelo tratamento.
— Um dos dilemas da saúde hoje é a fragmentação do cuidado. Administrar hospital não é nossa vocação como seguradora. A integração de informações e a articulação da rede melhoram a qualidade da assistência e resultam em redução de custo — diz Manoel Antônio Peres , diretor-presidente da Bradesco Saúde e da Mediservice, que pretende levar o modelo a São Paulo e diz que há planos de parceria com a Rede D’Or também em Pernambuco.
Proteção de dados
Segundo Franklin Padrão , presidente da Golden Cross, a explosão de custos do setor nos últimos cinco anos levou muitas operadoras a investirem em redes próprias e estimulou o setor a pensar em novos modelos.
— Nesse modelo, além do compartilhamento de risco e de resultados entre operadora e rede hospitalar, há um comprometimento com o resultado — diz Padrão, ressaltando que parcerias desse tipo necessitam de grandes grupos. — Não existem muitos provedores de rede com tamanho suficiente para esse tipo de parceria. No Rio, acho que teria mais uma rede hospitalar a que poderíamos nos associar, mas para uma outra clientela.
Os planos regionais são uma alternativa para a busca da sustentabilidade do setor, diz André Lauzana , vice-presidente Comercial e de Marketing da SulAmérica, que acaba de lançar um plano no Rio, em parceria com a Rede D’Or, com mensalidades a partir de R$ 132, voltado a empresas com mais de 30 funcionários. A operadora, diz Lauzana, estuda o lançamento de produtos semelhantes com outros parceiros, inclusive, fora do Rio.
— Todos compartilham o risco, desde o consumidor, com o pagamento da coparticipação, induzindo um uso mais consciente, até a rede de hospitais. O resultado é a combinação de cuidado coordenado do usuário com uma rede focada. Trata-se de um sistema mais sustentável.
Para Ana Carolina Navarrete , pesquisadora em saúde do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor ( Idec ), é preciso mais tempo para avaliar se o modelo é favorável ao consumidor.
— A grande preocupação, no entanto, é com a proteção de dados. Garantir que as informações serão usadas com o consentimento do consumidor e a segurança no armazenamento dessas informações — ressalta, numa referência ao compartilhamento de dados entre a operadora e a rede de hospitais.
Ary Ribeiro , vice-presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), reconhece que de fato há uma diversificação de modelos de negócio na saúde suplementar, mas afirma que, seja qual for o formato, o foco deve ser mesmo o da gestão de saúde. É nesse sentido que a associação mantém um programa de acompanhamento de desfechos clínicos, em casos de insuficiência cardíaca e AVC, em 14 hospitais.
— Definir metodologia, protocolo é forma de garantir a assistência mais adequada. Precisamos investir em informação qualificada, transparência sempre com foco no paciente. Seja num modelo verticalizado dos hospitais próprios de operadoras ou nessa verticalização virtual, que chamamos quando as empresas fazem parceria com redes hospitalares.
Especialistas, no entanto, dizem que é crescente a tendência de parceria não só de grandes grupos hospitalares com operadoras, mas de articulação de unidades isoladas, via programas de informação e atenção coordenada.
— O crescimento por rede própria, torna a expansão do atendimento da operadora mais lento. Além disso, com esse modelo, em que duas ou mais empresas se articulam para um atendimento mais coordenado do beneficiário há menor risco de incentivo à subutilização do que numa rede verticalizada. Isso porque as duas marcas precisam manter o seu padrão e a sua reputação no mercado, há um monitoramento entre elas — explica uma fonte do setor que preferiu não se identificar.
Fonte: O Globo