A cladribina é o primeiro tratamento oral de curta duração e efeito prolongado contra a doença
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta segunda-feira (9) um novo tratamento para esclerose múltipla. A cladribina oral é o primeiro tratamento oral de curta duração e eficácia prolongada contra a doença. O medicamento é administrado por no máximo 20 dias e seu efeito dura por quatro anos.
Funciona da seguinte forma: no início do tratamento, o paciente toma a dose recomendada por cinco dias. Um mês depois, repete a dose por mais cinco dias. No ano seguinte, o mesmo esquema é repetido e o efeito se prolonga por cerca de quatro anos. “Os estudos mostram que, em princípio, o paciente não precisa repetir o tratamento por quatro anos, mas pode ser que o efeito dure por um período maior ainda.”, explica o neurologista Jefferson Becker, presidente executivo do Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla e Doenças Neuroimunológicas (BCTRIMS).
A maioria dos tratamentos disponíveis atualmente exigem dosagens regulares, contínuas e muitas vezes injetáveis. A forma de administração da cladribina, contribui para a aderência do paciente ao tratamento e permite que ele leve uma vida normal.
O Mavenclad, nome comercial da nova terapia, é indicado para pacientes com esclerose múltipla remitente-recorrente. Isso é, pessoas que têm um surto inicial da doença, se recuperam e depois apresentam novos surtos – o que representa cerca de 85% dos pacientes com a doença.
Mecanismo de ação
A cladribina oral é uma terapia de reconstituição da resposta imune (IRT) que age com ação seletiva sobre os linfócitos B e T. Na esclerose múltipla, os linfócitos B e T (células de defesa) atacam as células do sistema nervoso central e destroem a mielina e o axônio. A cladribina age diretamente sobre esses linfócitos.
“A grande vantagem do medicamento é que ele trata diretamente a doença ao reduzir o número desses linfócitos e, consequentemente, a agressão ao sistema nervoso”, afirma Becker. A cladribina age no DNA desses linfócitos e causa sua morte, sem suprimir o sistema nervoso. “Ela causa a morte apenas dos linfócitos circulantes e não daqueles que estão nos órgãos”, ressalta o neurologista.
Além disso, com o passar do tempo, esses linfócitos voltam a ser produzidos. Quando isso acontece, eles estão menos reativos, ou seja, agridem menos o sistema nervoso. No programa de ensaios clínicos, que totalizou 9.509 pacientes-ano, acompanhados por um período de cinco a oito anos, o medicamento reduziu em 58% a taxa de surto anual, em 33% o risco de progressão de incapacidade confirmada em três meses, diminuiu o número médio de lesões cerebrais e acabou com os surtos em 81% dos pacientes após dois anos de tratamento. Todos esses fatores são critérios importantes ao avaliar a eficácia de um tratamento contra a esclerose múltipla.
As reações adversas mais frequentes foram infecção do trato respiratório superior, cefaleia e linfopenia. As reações adversas graves notificadas no programa clínico incluíram aumento no risco de infecção por herpes zoster e herpes oral e no risco de de câncer. A única contraindicação do tratamento é durante a gestação.
Ele já está aprovado em 68 países, incluindo Estados Unidos, União Europeia, México e Argentina. A expectativa agora é que o Mavenclad esteja disponível no Brasil nos próximos três meses. Ainda não há previsão de preço do tratamento.
Esclerose múltipla
A esclerose múltipla (EM) é uma doença crônica e autoimune do sistema nervoso central. Ela afeta principalmente adultos jovens e é extremamente incapacitante. Estima-se que aproximadamente 2,3 milhões de pessoas no mundo têm EM – 35.000 só no Brasil.
Os sintomas mais comuns são visão turva, dormência ou formigamento dos membros, sensação de membros pesados, dificuldade para caminhar, confusão mental e problemas com força e coordenação. As formas reincidentes de EM são as mais comuns.
Fonte: Veja
Opinião, por Fabíola Cunha, advogada da Areal Pires Advogados
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou em setembro de 2019 um novo tratamento, via oral, para tratar a esclerose múltipla.
O tratamento é com a cladribina oral, que age diretamente sobre esses linfócitos e diminui a agressão ao sistema nervoso.
É administrada de forma oral por 20 dias e o paciente não precisa repetir o tratamento por quatro anos.
Aprovações de novos medicamentos no mercado são um sopro de esperança de dias melhores para os portadores de alguma enfermidade. No caso da Esclerose Múltipla, cerca de trinta e cinco mil pessoas convivem com a doença no Brasil.